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Educação sem distração: Colégio Sigma limita uso de celulares em sala de aula
O Colégio Sigma, de Londrina, proibiu que estudantes do ensino médio permaneçam com celulares em sala de aula. Em uma decisão corajosa, a direção da escola determinou que os smartphones dos adolescentes sejam guardados em um suporte específico para este fim.
Os aparelhos só podem ser acessados na hora do intervalo ou se os professores programarem atividades que demandem o uso para pesquisa, games ou outros fins pedagógicos.
Contrariando expectativas, depois de se acostumarem com a novidade, os adolescentes aprovaram a decisão. De acordo com relatos dos alunos, a proibição dos telefones celulares os mantém mais concentrados nas aulas e incentiva a interação com os colegas.
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Celulares provocam dispersão em sala de aula
“Muitas pesquisas já indicam que smartphones são um importante elemento de dispersão durante as aulas. Mesmo que o aluno mantenha o equipamento guardado, a cada notificação ele é seduzido a dar uma olhada para ver o que está acontecendo. O percentual de rebaixamento da atenção aumenta muito apenas pela presença do equipamento”, explica.Silvia Helena Carvalho, diretora pedagógica do Colégio Sigma,
No livro "Nação Dopamina", escrito pela psiquiatra e professora de psiquiatria e ciências comportamentais na Universidade de Stanford, Anna Lembke, ela destaca como a busca incessante por prazer e gratificação imediata afeta a saúde mental e o bem-estar. Especialista em vícios, a autora explica como a dopamina, um neurotransmissor ligado ao prazer, é manipulada por atividades modernas, incluindo o uso excessivo de tecnologia e redes sociais.
De acordo com Lembke, o uso constante de smartphones e aplicativos pode levar a uma dependência comparável a vícios em substâncias químicas, prejudicando a capacidade de concentração, aumentando a ansiedade e diminuindo a satisfação com atividades cotidianas.
Tal risco, para Silvia Helena, justifica a proibição do uso em sala de aula. “No contexto escolar, a limitação do uso dos smartphones pode melhorar a concentração dos alunos, reduzir distrações e promover um ambiente mais saudável e produtivo para o aprendizado”, defende.
Apesar da preocupação com o uso excessivo de telas, a equipe pedagógica do Sigma acredita que a integração entre tecnologia e educação pode ser benéfica. Por isso, professores são incentivados a planejar o uso com finalidades pedagógicas específicas.
Silvia cita o educador e pesquisador Rubem Puentedura, que descreve diferentes níveis de integração da tecnologia na educação. Para ele, quando usado de maneira consciente e estruturada, o celular pode ser uma ferramenta poderosa, promovendo um aprendizado mais interativo, colaborativo e profundo. No entanto, ele também enfatiza a importância de planejar cuidadosamente a integração tecnológica para garantir que ela realmente melhore a experiência educacional e não apenas sirva como mais um motivo de dispersão durante as aulas.
Professores do Sigma elogiam proibição de celular
Após duas semanas sem a presença dos celulares na sala de aula, os professores do ensino médio do Sigma garantem que o clima em sala de aula melhorou. “A atenção dos alunos aumentou muito, eles estão mais conectados com os conteúdos e com o professor”, elogia a professora Kátia Peras, de Biologia.
Para o professor Darnei Fogaça, de Física, os benefícios são sentidos dentro e fora da sala de aula. “Eles estavam sempre com o pensamento acelerado, focados nos celulares, agora interagem mais entre eles e com o professor. A atenção nas aulas também melhorou significativamente”, elogia.
Já o professor Luís Fernando Zanin, de Química, analisa que o exercício de não usar o celular é uma aprendizagem para a vida. “No nosso dia-a-dia, há muitos lugares onde o uso não é permitido. É importante que os adolescentes aprendam a respeitar a regra também na escola. Ao contrário do esperado, os estudantes até gostaram da decisão, entendendo que se beneficiam pela imposição de limites”, opina.
Depois do choque, estudantes aprovam experiência
Entre os alunos, a proibição de manter o celular consigo durante as aulas causou um “choque” quando a decisão foi anunciada. Duas semanas depois, entretanto, a maioria deles afirma que gostou da experiência.
Aos 15 anos, Maria Eduarda Brancaglião, aluna da primeira série do ensino médio, achava que seria incapaz de ficar separada do smartphone. “Eu uso celular desde pequena, é como se ele fizesse parte de mim”, diz. Por isso, ela levou um susto quando foi informada das novas regras do Colégio. “Achei que não ia conseguir ficar sem olhar as notificações por tanto tempo, mas percebi que foi bem melhor para mim. Estou mais conectada com as aulas, prestando mais atenção. Até reduzi o uso em casa”, avalia.
Pedro Augusto Vidotti, 17, aluno da terceira série, já não tinha o hábito de olhar o celular durante as aulas, mas percebeu que a adoção da nova regra melhorou o relacionamento entre os colegas. “Antes a gente ficava conectado no celular e conversava menos sobre outros assuntos, agora passamos mais tempo conversando, aumentou a conexão. Acho que a experiência é bem positiva”, elogia.